escrito originalmente em pedagogosdofuturo.blogspot.com (blog em desuso) em 10/10/2008
Comunicação e Informação: jornalista
diplomado tem que ser diferente
Por Rildo Ferreira
I - RESUMO
A partir de um e-mail recebido do Portal Brasileiro de Filosofia, que critica a
declaração do ministro Fernando Haddad sobre discutir diretrizes curriculares
dos cursos de Comunicação Social, em especial o de jornalismo, e a
possibilidade de criar cursos de especialização em jornalismo para que formados
em outras áreas também possam exercer a profissão, e-mail que foi encaminhado
para uma estudante de jornalismo e que provocou um debate interessante sobre a
importância do diploma para o exercício da profissão de jornalismo. Para
aprofundar o debate, fomos à origem do imbróglio: a reportagem com parte da
declaração do ministro. Analisando a declaração concluí que a interpretação
constante no e-mail tem um cunho ideológico e criticista. Aprofundo minha investigação
para reforçar ou refutar meu conceito filosófico sobre o que vem a ser
jornalismo e da necessidade do diploma para a prática da profissão dentro do
contexto da sociedade do conhecimento e dos modernos recursos
tecnológicos. Uma indagação surge dentro desta busca: o que é isto, o
jornalismo? Esta inquietação reforça a idéia de que jornalismo tem a ver com
tomada de posição em favor das forças hegemônicas ou por romper com elas. Tem a
ver com transformação ou a manutenção do atual estado de coisas dentro das
relações de forças, o que exige cientificidade específica. Eis o que diferencia
o jornalista diplomado pela academia dos outros profissionais que praticam
jornalismo.
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Palavras Chave: jornalismo, comunicação e informação, diploma, sociedade.
II - Introdução
As crianças travessas, daquelas bem bagunceiras, são exímias comunicadoras. E
elas fazem comunicação de uma forma bastante ideológica, pois se trata de uma
escolha entre a verdade que resulta no castigo, ou no escamotear da verdade
para fugir do castigo. Ao seu jeito, ainda na mais tenra idade, uma criança
consegue narrar com requintes de detalhe sobre um fato acontecido e,
comunicando-se desta forma produz uma informação verossímil.
As pessoas no dia-a-dia praticam a comunicação e a informação muito
naturalmente. Tanto assim que, diante de um sinistro que presenciam, saem do
local onde aconteceu o sinistro comunicando e informando detalhadamente o
ocorrido. Posso sugerir que esta é uma forma primitiva, mas muito original de
praticar jornalismo ainda que sua informação não seja comunicada através de
jornal, rádio, televisão ou internet, pois, a partir de um indivíduo, muitos
outros se orientam por meio dela. Na forma primitiva, este processo se ramifica
e cada um que ouviu tenta reproduzir com fidelidade a informação recebida. Quem
pode calar a boca das pessoas a ponto de impedi-las de praticar este tipo de
jornalismo? Mesmo no período da repressão, onde a censura era uma prática comum
dos órgãos repressivos, só se calavam as pessoas que queriam comunicar e
informar encarcerando-as ou eliminando-as definitivamente.
Ora, nos dias contemporâneos, tempo em que se vive a sociedade do conhecimento,
e desde o início da revolução tecnológica, os processos de comunicação e
informação ficaram naturalmente mais democráticos. Se cada um, e todos e todas
podem praticar jornalismo sem ser jornalista formado/a na academia, para que
serve o diploma universitário de jornalismo? Esta questão abre um debate acerca
do papel do jornalismo e da práxis jornalística, apontando para uma relação
dialética com vistas a uma intervenção nas questões sociais.
Este texto se propõe a dialogar sobre a necessidade do diploma de jornalista
para a prática do jornalismo. Eu me debrucei sobre a questão a partir de um
comentário que recebi do Portal Brasileiro de Filosofia, em nome de Paulo
Ghiraldelli Júnior, que se denomina filósofo de São Paulo. Nele Ghiraldelli
comenta uma manifestação do ministro da educação Fernando Haddad que teria dito
no dia 18 de setembro de 2008, numa entrevista à Empresa Brasil de
Comunicação (EBC) que “criará uma comissão para discutir as diretrizes
curriculares dos cursos de comunicação social, em especial o de jornalismo”
(Cieglinski, 2008: Agência Brasil).
Antes de seguir adiante na questão, preciso informar aos meus leitores que não
sou jornalista, não estudo jornalismo e não tenho ainda o curso superior. Na
verdade, sou estudante de Pedagogia num curso noturno graças a uma bolsa do
ProUni, um programa do governo federal que oferece bolsas de estudos no ensino
superior para quem estudou o ensino médio em escola pública ou foi bolsista em
escola particular, programa que Ghiraldelli usa para descerrar seu preconceito
e sua posição ideológica de manutenção da sociedade desigual quando afirma “... como
em princípio quem faz um curso superior sabe escrever (eu disse "em
princípio", pois não posso dizer "efetivamente", dado o Prouni e
outras facilitações brasileiras arrumadas pelo PT e outros arautos do populismo)...”
como sendo todos nós bolsistas do ProUni incapazes e não aptos para ingressar
no curso superior.
Este texto começa por analisar a
entrevista que o ministro concedeu à Empresa Brasil de Comunicação (EBC) a
partir da reportagem de Amanda Cieglisnki. Em seguida, vamos analisar outras
opiniões acerca do tema, abordando ao mesmo tempo o significado de jornalismo como
espaço público e como processo, e também avaliar como o jornalismo está sendo
praticado nas grandes mídias abrindo uma discussão sobre o papel social de quem
pratica jornalismo enquanto profissão.
Eu vou concluir expressando minha posição sobre este assunto. Não posso
eximir-me desta condição considerando que foi exatamente isto que me trouxe a
esta dissertativa. Não espero elogios, ao contrário, quero provocar um debate
acerca da práxis jornalística com o intuito claro de influenciar na posição dos
futuros jornalistas que farão comunicação e informação para uma geração que
emerge em meio aos instrumentos tecnológicos bastante interativos, cuja
capacidade de fruição e reflexão do conteúdo midiático está muito além do nosso
conhecimento. Se ao final do debate surgir questionamentos e inquietações
acerca do que é o jornalismo, fazendo com que todos e todas que se interessam
pelo tema expressem suas opiniões de maneira a esclarecer o assunto, aí sim
teremos alcançado o objetivo fim.
III - O que provocou esse debate
Como estudante do curso de Pedagogia (como já o disse, graças ao ProUni, para
desespero do Ghiraldelli), fiz uma disciplina denominada Filosofia da Educação.
Neste período tive contato com a literatura de autoria de Paulo Ghiraldelli
Júnior. Certo dia, pesquisando sobre o Programa de Desenvolvimento da Educação
do governo federal, encontrei um artigo publicado no jornal Estado de São Paulo
assinado por Ghiraldelli. Neste artigo ele faz uma dura crítica ao PDE. Com uma
posição diferente dele, fiz uma crítica à crítica dele e publiquei no meu blog
(acessível em
pedagogosdofuturo.blogspot.com/2007/12/o-mec-no-pra-de-errar-por-rildo.html#links).
Como um sujeito democrático e buscando ser honesto, enviei um e-mail ao
Ghiraldelli lhe comunicando sobre o artigo. Eis que o filósofo de São Paulo,
como gosta de se denominar, me responde com ofensas. Posso garantir que burro
foi a única publicável. Não me contive e repliquei. Novamente, novos insultos,
mas desta vez com um convite para participar do grupo do Portal Brasileiro de
Filosofia. Eu aceitei!
Como membro do grupo, recebo vários e-mails com os mais variados assuntos.
Maioria deles eu os ignoro, pois nada dizem de importante. Mas recebi um que me
chamou a atenção pelo seu título jornalista sem diploma, e
pela discriminação explícita no seu conteúdo. Vale a pena reproduzir o
parágrafo para uma apreciação de todos e todas. Disse ele:
Na prática o que Fernando Haddad
pensa sobre o jornalismo pode ser mais ou menos isso: ser jornalista é saber
escrever e, então, como em princípio quem faz um curso superior sabe escrever
(eu disse "em princípio", pois não posso dizer
"efetivamente", dado o Prouni e outras facilitações brasileiras
arrumadas pelo PT e outros arautos do populismo), para que devemos ter qualquer
"reserva de mercado" para tal profissão? (Ghiraldelli, 2008: e-mail
de grupo)
O estranho é que no site do Portal
Brasileiro de Filosofia (PBF) Ghiraldelli não faz uso do termo discriminatório
quando reescreve o artigo rearranjando com o títuloO Jornalista Sem Escola
de Jornalismo (Ghiraldelli, 2008: internet). Por que será? Talvez ele
não queira mostrar sua verdadeira face para os milhares de universitários
bolsistas do ProUni que em determinado momento farão uso de uma ou mais obras
de sua autoria. Mas isto não vem ao caso aqui. Então vamos voltar ao assunto e
dizer que este e-mail (o que recebi do PBF) foi reenviado para uma estudante de
jornalismo que já praticava jornalismo sem passar pela academia. Daí o debate
tomou um determinado corpo aguçando minha curiosidade para conhecer mais sobre
a matéria.
Então adotei a seguinte metodologia: primeiro é preciso conhecer o teor das
declarações do ministro. Não foi encontrado nenhum registro integral da
entrevista dada pelo ministro Haddad à Empresa Brasil de Comunicações. A
matéria startante deste imbróglio é de autoria de Cieglinski da Agência Brasil,
e que vou comentar no tópico seguinte. Depois fui procurar artigos, teses e
literatura pertinentes ao jornalismo, não só para entendê-lo enquanto ciência,
mas para compreender sua práxis e sua função científica. Vamos adiante ao
assunto passando agora à matéria da jornalista Cieglinski e entender o que de
fato disse o ministro Haddad.
IV – O ministro e a profissão do
jornalista
Cieglinski, repórter da Agência Brasil, em matéria disponível na internet
escreve: “... O ministro da Educação, Fernando Haddad, disse hoje (18), em
entrevista à Empresa Brasil de Comunicação (EBC), que criará uma comissão para
discutir as diretrizes curriculares dos cursos de comunicação social, em
especial o de jornalismo... Entre os possíveis assuntos que serão debatidos
pela comissão está a possibilidade de criar cursos de especialização em
jornalismo para que formados em outras áreas também possam exercer a
profissão”.
|
Ministro da Educação, Fernando Haddad – foto extraída da matéria da Agência Brasil |
Nas palavras do ministro na
entrevista ele propõe uma discussão para ver quais diretrizes e quais
competências são necessárias para que um profissional não jornalista
possa exercer jornalismo. Nesta entrevista, não há uma posição do ministro em
ser favor ou contra o diploma para o exercício da profissão. O que foi dito, é
preciso reforçar, é que a posição do ministro é “... que é um bom momento
para discutir essas diretrizes e verificar inclusive quais são as competências
que precisam ser adquiridas por um profissional de outra área para que ele
possa exercer a profissão de jornalista” (Ceglinski, 2008: Agência Brasil).
Ivana Bentes, doutora em Comunicação pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro, diretora da Escola de Comunicação, concede entrevista para a Revista
on-line do Instituto Humanitas Unisinos onde declara:
... surge uma argumentação contrária,
afirmando que isso é fazer o jogo das empresas. Vejamos que as empresas já
burlam o diploma de todas as formas, como os colunistas. Sempre peço aos meus
alunos para analisarem qual é o maior salário das redações e o resultado é
sempre o mesmo: os colunistas. Quantos deles são formados em jornalismo? Quase
nenhum! Os cronistas, os editores, os colunistas, isto é, os cargos mais nobres
da redação são ocupados, geralmente, por não jornalistas. E isso há décadas! Eu
considero muito saudável o fato de que sociólogos, antropólogos, filósofos, economistas
e artistas escrevam nos jornais. O jornalista não tem mais aquele perfil
fechado. Se a exigência do diploma acabasse amanhã, os cursos de comunicação
continuariam iguais. Os cursos que fazem a diferença dentro da formação desse
profissional continuam formando profissionais de qualidade. O que muda e o que
acaba são os cursos que realmente vendiam apenas o diploma.
Vamos analisar esta última frase do
ministro Haddad - quando ele diz “... verificar inclusive quais são as
competências que precisam ser adquiridas por um profissional de outra área para
que ele possa exercer a profissão de jornalista” e compará-la com a afirmação
de Bentes. A doutora diz que há sociólogos, antropólogos, filósofos,
economistas e artistas que escrevem para os jornais. Embora ela não seja
contrária a participação deles, inclusive considerando-os saudáveis para a
comunicação e a informação ela questiona: quantos deles são formados em
jornalismo? E o que disse o ministro senão verificar quais as
competências necessárias para que, com uma formação complementar, eles
possam continuar fazendo o que já fazem sem serem jornalistas. Essa informação
está no artigo de Ceglinski. Vejamos:
Para o ministro, o aprofundamento do
debate pode implicar em melhoria da qualidade do exercício profissional. “A
comissão discutirá isso, sem prazo determinado, para que o MEC tenha um
posicionamento oficial sobre o assunto [obrigatoriedade do diploma para
exercício da profissão]. Mas essa [a formação complementar] é uma
possibilidade. Um médico, por exemplo, pode fazer uma pós em comunicação para
cobrir os assuntos de saúde, ou um pedagogo para cobrir educação”, comparou
([grifos da autora] Ceglisnki, 2008: Agência Brasil).
Ora, a minha compreensão é a de que o
ministro pensa que para que estes graduados não jornalistas possam continuar a
praticar o jornalismo que praticam, precisarão de uma pós-graduação com
disciplinas pertinentes ao jornalismo, nos moldes aplicados na educação, quando
um psicólogo, antropólogo, biólogo, sociólogo deseja ser um educador, precisa
fazer algumas disciplinas pertinentes para a licenciatura. Obviamente
precisamos de mais elementos do pensamento do próprio ministro para ter um
entendimento claro sobre o que ele pensa desse assunto, de qualquer maneira,
este parágrafo mostra que o MEC ainda não tem uma posição formada e que esta
comissão é que pode oferecer os subsídios necessários para uma posição oficial
sobre o assunto.
Digamos que o Ghiraldelli esteja certo na sua interpretação e eu esteja errado
na minha. Digamos, também, que a proposta do ministro seja esta, a de
oportunizar que qualquer um que tenha curso superior possa exercer a profissão
de jornalista sem que tenha cursado a academia com esta finalidade. Digamos que
a compreensão comum é a de que isto é um erro e que não pode ser aceito de
maneira nenhuma e que, para ser jornalista o sujeito tenha que passar pela
academia com esta finalidade. Não temos, então, alguns questionamentos a serem
respondidos? Vejamos: quem exerce a profissão de jornalista e não possui o
diploma, o que será feito desse povo? E esses impressos independentes que são
produzidos com característica de jornal, serão proibidos de circular? E os
milhares de indivíduos que atuam nessa enormidade de rádios comunitárias
espalhadas pelo país, trabalhadores que não possuem diploma de jornalista, o
que será feito deles? Será possível impedir que uma pessoa publique uma matéria
na internet, na sua revista eletrônica, no seu blog, no seu jornal eletrônico,
na sua rádio virtual?
Eu acredito na possibilidade da democratização da comunicação e da informação.
A Constituição Federal garantiu às brasileiras e brasileiros o direito de
comunicação, de informação, de expressão cultural, independente de censura ou
licença. Está expresso no seu Art. 5º. Nos seus respectivos incisos:
Art. 5º Todos são iguais perante a
lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
...
IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;
...
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de
comunicação, independentemente de censura ou licença;
...
(Constituição Federal, 1988 [grifo meu])
Dada essa condição constitucional,
vamos pensar agora numa característica desta sociedade e desta nova geração que
nasce em meio aos revolucionários recursos tecnológicos. Vivemos a era do
conhecimento, onde o capital principal é o intelectual, exigindo dos
trabalhadores uma capacidade de tomar iniciativas, estar informado e
atualizado, ser capaz de se comunicar com desenvoltura e de ser inovador. Esta
sociedade é produto da chamada terceira revolução, a revolução tecnológica. Com
o barateamento e a conseqüente popularização desses instrumentos, com muito
pouco recurso financeiro qualquer pessoa pode produzir o seu próprio jornal
(Kucinski, 2003: internet). E quem poderá impedir alguém de se comunicar sem correr
o risco de censura e de violação dos direitos constitucionais do cidadão?
Os defensores do diploma para o exercício da profissão de jornalista deveriam
estar preocupados com outra questão: a da razão filosófica de ser do
jornalista. Esta razão é muito mais do que ter a garantia de emprego por ter um
diploma na mão. Aliás, diploma não é garantia de absolutamente nada. Tem muito
diplomado por aí concorrendo a um emprego público com salário de pouco mais de
600 reais por mês. E por quê? Porque não são competentes. Não adquiriram a
competência necessária na academia para exercer a profissão escolhida. Então a
gente precisa se debruçar sobre o que vem a ser jornalismo pra buscar a
essência desta profissão. E pra quê buscar esta essência? Pra ser diferente e
não ficar preocupado com os milhares de homens e mulheres que exercem a
profissão sem diploma. Se estes que não possuem diploma ocupam o lugar de quem
possui, alguma coisa está errada, e está errada por inabilidade, incompetência
dos diplomados que não ocupam o seu espaço. E o que é interessante observar é
que o corporativismo não tem conseguido impedir isso (Bentes, internet).
Cassiano Elek Machado, jornalista da Folha de São Paulo, escreveu um artigo em
2002 com o título “a universidade é só o começo” e traz no seu primeiro
parágrafo uma interessante observação que desejo reproduzi-la a todos.
Na última década, a universidade
viveu uma espécie de milagre da multiplicação dos diplomas. O número de
graduados cresceu de 225 mil no final dos anos 80 para 325 mil no levantamento
mais recente do Ministério da Educação, em 2000. A entrada no mercado de
trabalho desse contingente, porém, não vem sendo propriamente triunfal como uma
festa de formatura. Engenheiros e educadores, professores e administradores,
escritores e sobretudo empresários, têm sussurrado uma frase nos ouvidos dessas
centenas de milhares de novos graduados: "O diploma está nu"
(Machado, 2002: internet).
Machado destaca no texto a expressão
“o diploma está nu”. Por qual motivo? Notem que o autor diz que o
mercado não absorveu o contingente de graduados na mesma proporção da
formatura. E de lá (2002) aos dias atuais, quantos graduados mais foram
lançados como oferta no mercado sem que este tivesse condições de absorvê-los?
E o diploma foi garantia de emprego? A resposta é simples. Não. E o que é pior,
é que os piores desse contingente passaram a disputar emprego de nível médio ou
se colocando a disposição com salários aviltantes, o que passou a colocar em
xeque o emprego e o salário dos melhores.
Nesse mesmo artigo ele cita o autodidata Evaldo Cabral de Mello para dizer
"O importante é ter formação, que não é necessariamente universitária”.
Ora, se recorrermos ao artigo da doutora Bentes (internet) perceberemos que as
empresas de comunicação preferem aqueles que são formados e bem
informados aos jornalistas diplomados que deixam a desejar quando
avaliados empiricamente. Talvez por isso os alunos da doutora identifiquem
melhores salários para aqueles que não possuem diploma de jornalista. Com
efeito, senhoras e senhores; o problema da empregabilidade não está no diploma,
mas na formação. Diploma e corporativismo não vão garantir emprego nos dias
atuais (Pastore, 2000). Daí que eu insisto que o jornalista que passa pela
academia precisa ser diferente. Ele possui a cientificidade pertinente para uma
práxis diferenciada. Uma práxis que pode interferir no que está posto na
sociedade, na comunicabilidade. No meu entender, jornalista tem uma função
social e seu trabalho precisa estar atento a isto, ainda que as empresas de
comunicação operem contra uma mudança substancial na sociedade preservando o status
quo da classe hegemônica, é papel do jornalista estar lá investigando
a causalidade do fato, reportando com verossimilidade provocando uma
transformação no contexto social.
V - O que é isto, o jornalismo?
Para levar adiante este diálogo vamos precisar esclarecer o vem a ser
jornalismo (estou falando do meu ponto de vista sendo factível aos leitores uma
interpretação diferenciada). E para esclarecer o que penso do assunto, vou
recorrer a outro doutor em comunicação social. Trata-se de Carlos Chaparro, que
a meu ver, tem uma definição bastante esclarecedora sobre o que é jornalismo.
Um vídeo disponível no You Tube, acessível a qualquer um que queira investigar,
foi transcrito por mim, e aí me permiti corrigir para a escrita aquilo que o
doutor Chaparro diz oralmente, para ilustrar este diálogo. Disse Chaparro:
O jornalismo não é o jornal. O que se
joga no lixo é o jornal, mas o jornalismo tem a ver com a vida. Porquê? Porque
aquilo que é noticia só é noticia porque tem algum potencial de transformar a realidade.
Então o jornalismo não lida com o efêmero. Jornalismo lida com a transformação.
As noticias de amanhã elas refletirão os efeitos das notícias de hoje. Portanto
o jornalismo está enraizado como ferramenta essencial no contexto da vida, no
contexto da realidade, no contexto da construção do presente (Chaparro,
transcrição de vídeo).
Transformar a realidade é, a meu ver,
interferir nela. Como isso pode ocorrer? Ora, vamos recordar o jornalista Tim
Lopes, barbaramente assassinado no topo da Favela da Grota, no Complexo do
Alemão, no Rio de Janeiro. O que fazia Tim Lopes na favela? Uma reportagem é
claro, mas não uma reportagem que apenas narrasse o fato, mas uma que mostrasse
a causalidade e a conseqüência do fato. Tim Lopes tentava mostrar que onde o
Estado não atua, o crime se instala, se organiza, e toma conta de tudo. Ali
onde o Estado está ausente, impera a Lei do crime. Meninos de 10, 12 anos andam
fortemente armado com escopeta, fuzil, pistola; entorpecentes são comercializados
como se fossem guloseimas infantis; quem comete um ato que viola a lei do
crime, ali mesmo é julgado e, se condenado, fuzilado como sentença última.
Ao tentar interferir na realidade o jornalista pratica o jornalismo na sua
essência, ou seja, ele procura com a narração do fato conhecer a causalidade
para produzir um efeito transformador da realidade. Para esclarecer melhor o
que estou dizendo vamos analisar as matérias publicadas nos jornais O DIA
on-line e Zero Hora on-line em 01/10/2008:
Acidente entre carro e motocicleta
deixa um ferido em BotafogoBartolomeu Brito
Rio - Um Celta branco, placa LQH 1849, colidiu com uma motocicleta Zuzuki
preta, placa MJR 0007, na Rua general Polidoro, em frente ao nº 15, em
Botafogo.
O motociclista, Caio de Melo, 47 anos, caiu da moto e sofreu ferimentos leves.
Foi socorrido por uma ambulância do Corpo de Bombeiros e levado para o Hospital
Miguel Couto (O Dia on-line, 01/10/2008).
Acidente em Farroupilha deixa quatro pessoas gravemente feridas
Caminhão e Uno colidiram próximo ao
Posto Cavalleri, no km 109 da RSC-453
Um acidente entre um caminhão furgão e um Uno, às 9h50min, próximo ao Posto
Cavalleri, no km 109 da RSC-453, em Farroupilha, deixou os quatro ocupantes do
carro gravemente feridos. O motorista do caminhão saiu ileso, e seu ajudante
teve escoriações leves. As vítimas foram socorridas pelo Corpo de Bombeiros e
encaminhadas ao Hospital São Carlos, no município.
O caminhão, da empresa Divibom, distribuidora de sorvetes Kibon, seguia no
sentido Farroupilha-Garibaldi. O Uno da empresa Acquasul, de Nova Prata, vinha
no (sic) mão oposta (Zero Hora on-line, 01/10/08).
Com efeito! O que os jornalistas
produziram com as respectivas matérias? Onde estão as causas das tragédias?
Quais objetivos os jornalistas tinham quando pensaram em produzir tais artigos?
Se nada tem de objetivo, a matéria não passa de uma ação de um comunicólogo.
Jornalismo é mais que isso. Jornalismo procura conhecer a causa para
transformar a realidade. Vejamos: se nas mesmas matérias os jornalistas se
preocupassem em verificar quais foram os motivos que provocaram os acidentes
ouvindo outros atores como os que vivem próximo dos locais dos acidentes,
outros motoristas que trafegam diariamente pelas respectivas estradas,
procurassem conhecer as condições da sinalização, do asfalto, da visibilidade
etc., procurando mostrar além dos feridos nos acidentes e dos nomes deles
(aliás, a matéria do jornal Zero Hora sequer identifica os feridos), não
estariam os jornalistas provocando uma inquietação no Poder Público para tomar
as medidas cabíveis para evitar novos acidentes? É disto que estamos falando.
Jornalista que narra fatos não é jornalista. É comunicólogo. Para isto ele não
precisa do diploma da academia. Para isto qualquer um que fale com
desenvoltura, que saiba ler corretamente e tenha boa locução ou saiba escrever
corretamente serve.
Voltemos a dialogar com o doutor Chaparro. No mesmo vídeo (repito: transcrevi
com algumas correções) ele se refere ao jornalismo como um processo capaz de
transformações sociais. Vale a pena transcrever o diálogo aqui para melhor
compreensão.
O jornalismo é uma linguagem com
características muito particulares, com uma vocação muito particular para levar
à sociedade relatos, comentários, que possam ser acreditados. O jornalismo é um
processo, porque na medida em que as notícias de hoje projeta os acontecimentos
que amanhã serão noticiados, projetam, isto é, motivos, acontecimentos que
amanhã serão noticiados, então há aí uma dinâmica que tem a ver com os próprios
processos sociais. E o jornalismo cumpre um papel muito importante dentro dos processos
sociais. E o próprio, nos seus mecanismos, na sua lógica, ele se constitui um
processo (Chaparro).
Ele, o jornalismo, cumpre um papel
importante dentro dos processos sociais porque ele próprio é um processo
contributivo nas transformações sociais. O que será notícia amanhã é um reflexo
daquilo que será noticiado hoje, ou seja, se a notícia de hoje não mobilizou,
não impactou, não inquietou, não provocou mudanças, amanhã ela será a reprise
daquilo que já foi noticiado. É uma matéria requentada: mudam-se as palavras,
mas o conteúdo é o mesmo. Já quando ocorre o contrário, quando mobiliza,
inquieta e provoca mudanças, a notícia amanhã será outra, talvez ainda das
mudanças que ocorrem ao mesmo tempo ou da própria mudança já concreta.
A estudante de jornalismo citada no início deste texto, como já me referi,
praticou jornalismo por muito tempo sem ser jornalista formada na academia
(quero exaltar sua grande capacidade produtiva e afirmar que sua formação se
deu na prática). Fui testemunha de que muitas reportagens produzidas por ela
foram transcritas nos jornais da região sem que o/a jornalista responsável pela
publicação se desse ao trabalho de alguns telefonemas, algumas horas
investigando, procurando conhecer o “outro lado da moeda”. Não que a matéria
não fosse digna de crédito, mas é imprescindível que o jornalista não tenha
apenas uma versão. Não há aqui nenhuma conjetura da teoria da imparcialidade.
Muito já se tem falado que não há imparcialidade em jornalismo e eu comungo
desta opinião, mas há o que é de fato de diferente num jornalista. Investigar é
fundamental para a credibilidade do que ele publica, ou noticia no rádio ou na
televisão. Para fazer essa garimpagem de notícias que lhes chegam por e-mail
sem se dar ao trabalho da verificação, não é necessário o diploma da academia.
É aqui que eu considero que, se é para interpretar um texto bem redigido, com
as preocupações pertinentes da redação, a meu ver, ficaria melhor o posto para
um linguístico ou um professor de língua portuguesa.
V.i. – Uma abordagem esportiva
Ora, certamente alguns estão se perguntando sobre no que um jornalista
esportivo pode intervir, por exemplo. Estamos tão acostumados a ouvir a
fatídica pergunta “qual a sua expectativa para este jogo?” que não nos damos
conta do que acontece na margem periférica de uma partida de futebol. Vamos
tomar como exemplo um jogo envolvendo duas equipes rivais de um Estado, poderia
ser São Paulo e Corínthians; Atlético Mineiro e Cruzeiro; Grêmio e
Internacional; mas vou ficar aqui no Rio (de onde escrevo este texto) e citar
Vasco e Flamengo. Quantos ingressos falsificados são vendidos por cambistas nas
proximidades das bilheterias do Maracanã? Porque as filas continuam
quilométricas nas bilheterias com as tradicionais confusões, empurra-empurra
etc.? Porque o estádio não tem uma praça de alimentação adequada para os
visitantes? Você consegue se sentar no vaso sanitário dos banheiros do Estádio?
Vejam quantas coisas conseguimos identificar neste pequeno espaço de tempo e
espaço das quais o jornalista pode ter como objetivo influir. Mas o jornalista
mal-formado, aquele que se preocupou apenas com o diploma da academia, está
preocupado somente com a partida como fim em si mesma.
A notícia produzida com cientificidade por um jornalista capacitado tem um
objetivo maior que é o de transformar uma realidade. Ela precisa ser
inquietante, impactante, deixar alguém preocupado com o movimento que se dá a
partir dela. Não deve ser sensacionalista, aquela notícia que fala de uma
tragédia como se estivesse num grande teatro e que tudo isso é um show a ser
noticiado. Quando se noticia uma tragédia, a notícia deve possuir caráter
revelador, questionador, mobilizador. Quando noticiaram a morte do jornalista
Tim Lopes provocou uma mobilização social em defesa do estado de direito;
mobilização pela paz e pela vida. A notícia provocou uma mobilização que deixou
o Estado inquieto. Tanto assim que o mentor intelectual da barbárie não demorou
a ser preso. Quem, além do jornalista que passa pela academia, será capaz de
fazer do jornalismo uma ciência social transformadora?
VI - Por que é impossível impedir a prática do jornalismo sem diploma?
Este tópico tem uma pergunta como título. A resposta é uma subjetividade deste
autor. Para respondê-la precisamos conhecer melhor a sociedade em que vivemos.
Como já citado acima, a Constituição Brasileira democratizou o fazer
comunicação e informação, a cultura e o saber. Isso é um direito subjetivo e
inalienável. Kucinski (internet) se reporta aos processos tecnológicos como um
avanço na democratização da informação e da comunicação. Disse ele:
Quanto à outra revolução tecnológica,
a da comunicação, a considero, certamente, libertária. Chamo a atenção para
alguns aspectos dessa revolução que reforçam essa minha tese. O primeiro é o
barateamento dos processos, dos produtos, dos equipamentos. Hoje com 3.000 ou
4.000 reais uma pessoa produz um jornal sozinha; libertou-se do capital. Ao
contrário do que se possa imaginar, esse barateamento nos devolveu a autonomia
intelectual e o domínio relativo da produção intelectual. Nesse sentido, a
atual revolução tecnológica vai na direção oposta da Revolução Industrial do
século XVIII, que criou a máquina, destruindo o artesão e fazendo cada
trabalhador depender de um capitalista possuidor dos bens de produção
(Kucinski, 2003).
Isso significa dizer que se antes a
comunicação e a informação era privilégio de grupos agora já não é mais. É o
mesmo que dizer que todos os que têm acesso à internet pode ser comunicado e
comunicar, informado e informar, e isto sem ser necessário censura ou licença,
preceito garantido na Constituição Federal desde 1988. Com efeito, qualquer
pessoa que domina os modernos recursos tecnológicos pode praticar comunicação e
informação mesmo não sendo jornalista formado na academia, como afirma Moran
(2006):
A internet está explodindo como a
mídia mais promissora desde a implantação da televisão. É a mídia mais aberta,
descentralizada e, por isso mesmo, mais ameaçadora para os grupos políticos e
econômicos hegemônicos. Aumenta o número de pessoas ou grupos que criam, na
internet, suas próprias revistas, emissoras de rádio ou de televisão, sem pedir
licença ao Estado ou estar vinculados a setores econômicos tradicionais. Cada
um pode dizer nela o que quer, conversar com quem desejar, oferecer os serviços
que considerar convenientes. Como resultado, começamos a assistir as tentativas
de controlá-la de forma clara ou sutil (p. 9).
O jornalista que passa pela academia tem uma função
social, me desculpem pela insistência na abordagem. Esta é a diferença marcante
entre aquele que faz comunicação e informação com diploma para o que faz a
mesma coisa, mas não possui o diploma. Isso quer dizer que o jornalista com
academia tem uma tarefa de intervir no que está colocado na sociedade. Intervir
significa tomar uma posição, ser ideológico. Não existe comunicação e
informação imparcial. Então, fazer comunicação e informação qualquer um faz, e
para isto não é necessário o diploma da academia, mas fazer comunicação e informação
com o intuito de mudar as coisas, de promoção da verdade, com vistas a reduzir
as desigualdades e as injustiças é que faz a diferença no comunicar e no
informar. Esta intervenção, no entanto, exige uma cientificidade que não é dada
ao que faz pelo ativismo, fazer por protesto, para usufruir do seu direito de
se comunicar. Esta cientificidade é construída e apreendida na academia e é
aqui o cerne da questão, o diferencial. Cientificidade aferida pelo diploma.
Jornalista que assenta a bunda numa cadeira almofadada e liga o computador,
entra na internet, abre o e-mail e fica filtrando informações produzidas por
assessores de imprensa sem investigá-la, é parte dos milhares de homens e
mulheres que fazem comunicação e informação sem a cientificidade construída na
academia. Para estes não é necessário o diploma da academia. Aliás, minha
ousadia diz que se o papel dos veículos de comunicação é garimpar informações
produzidas por assessores de imprensa para publicá-las, ou editá-las e
reproduzi-las; garimpagem que privilegia um texto bem escrito, dentro das
formalidades exigidas pela editoria, talvez fosse melhor um professor de
lingüística ou da Língua Portuguesa a fazer isso a um jornalista que pena pra
burro pra dar conta de um texto enxuto, corretamente elaborado.
José Nêumanne Pinto prefaciando o livro de Serva (1997) traz uma preciosidade
como exemplo. Diz ele: “um de meus mestres, talvez o melhor repórter que
conheci, Mané Alexandrino Leite, do Diário de Borborema, de Campina Grande, era
semi-analfabeto. Ler, ele até lia, mas escrever, nem pensar. O que lhe faltava
em intimidade com o vernáculo, porém, lhe sobrava em faro para a notícia...”
(pp. 12, 13).
Como já disse anteriormente há um questionamento para saber o que será feito
dessa turma que já pratica jornalismo sem o diploma de jornalista. Jornalistas
formados empiricamente, que não passaram pela academia, mas que exercem com
profundo conhecimento a práxis jornalística. Este exemplo que Nêumanne cita no
prefácio do livro de Serva é importante porque ainda há muitos que trabalham no
ramo sem possuir o diploma. Falo especificamente dos jornalistas que procuram a
notícia, não dos colunistas que são graduados em outras áreas e que escrevem
para os jornais e revistas, ou comunicam nas rádios e nas tevês. Estes a
doutora Bentes já fala com muita propriedade em sua entrevista, já citada
anteriormente.
Naturalmente, dirão alguns, que se uma Lei determinar que para exercer a
profissão é obrigatório possuir diploma, as empresas serão obrigadas a
contratar somente os jornalistas formados, respeitando aqueles que já têm o
jornalismo como profissão mesmo sem possuir o diploma. Isso é verdade,
entretanto, isso não será garantia de emprego pra ninguém só porque possui
diploma. Não é à toa que os detentores dos meios procuram e valorizam os free
lancers. Estes continuarão a existir e a vender suas matérias sem que tenha
vínculo empregatício com as empresas de comunicação e informação. Além disso,
esse corporativismo tende a supervalorizar o possuidor do diploma ainda que
este não tenha adquirido na academia a competência necessária para a produção
da notícia. E mais, muitos continuarão (eu digo continuarão porque isso é uma
prática muito comum nos meios, principalmente nos jornais e revistas) a assinar
por matérias produzidas pelos já conhecidos Assessores de Imprensa, muitos
deles, se não a maioria, sem sequer ter passado pela academia. Isso vai na
contramão da história desses tempos contemporâneos. A história diz que a
academia deve capacitar o indivíduo para aprender a aprender e aprender a
fazer. Muitos jornalistas formados estão muito preocupados com a
empregabilidade, mas não sabem o que fazer com a formação que teve, ou seja,
não sabe verdadeiramente para que serve a sua formação senão para lhe garantir
um emprego numa empresa de comunicação e informação.
VII - Conclusão
Comecei este texto com uma reportagem da Agência Brasil sobre o ministro
Fernando Haddad e sua declaração sobre criar uma comissão para verificar quais
as competências são necessárias para que formados em outras áreas possam atuar
enquanto jornalistas. Mostrei que a posição do ministro é defensiva, já que o
governo não tem uma posição oficial. Esta será construída a partir do parecer
desta comissão. Mostrei, também, que o ministro não se manifesta quanto a
prática do jornalismo sem diploma e que a posição do filósofo Ghiraldelli
Júnior é marcadamente ideológica e preconceituosa. Esta posição eu procurei
estabelecer deixando claro que a minha interpretação não foi a mesma do
Ghiraldelli e pode não ser a sua.
Em seguida, fiz um paralelo com a entrevista que a doutora Bentes concedeu ao
Instituto Humanitas Unisinos, o que pela minha interpretação são
complementares. Passo então a discursar sobre o que vem a ser jornalismo
filosoficamente falando. Meu conceito eu deixo claro: jornalismo tem uma função
social. Não é concebível fazer jornalismo para comunicar um fato simplesmente.
Como disse o doutor Chaparro, jornalismo tem por característica transformar a
realidade. Foi por isso que lembrei neste texto do jornalista Tim Lopes para
lembrar que sua morte se deu em função do seu trabalho em tentar mudar uma
realidade vivida nas favelas do Rio de Janeiro. Lopes tentava nos dizer que
onde o Estado é ausente, o crime se aloja, se organiza e estabelece a sua lei,
uma lei que é contrária a do estado de direito.
Ainda que os meios sejam instrumentos do capitalismo para a perpetuação da
sociedade tal como ela se apresenta, cabe ao jornalista dar a sua contribuição
para a transformação desta realidade. Como disse Serva (1997), “O rádio já
surge dominado por forças que estão prontas a emitir quando ainda lhes falta
público receptor”, assim como foi o jornal impresso, a televisão e agora a
internet. Esta, no entanto, traz uma novidade que foi identificada por Kucinski
(internet) como aquela que devolve ao produtor a autonomia da intelectualidade,
democratiza e liberta. E aqui, por meio desse novo instrumento tecnológico
está, talvez, aquilo que mais aterroriza os defensores do diploma para o
exercício do jornalismo. A internet possibilita que a informação e a
comunicação se dê em just time; sem as amarras de um proprietário que determina
que tipo de conteúdo pode ser repassado à sociedade. Esse instrumento que
alargou as possibilidades de fruição da informação e da comunicação do público;
que colocou em xeque algumas verdades tidas como absolutas e que permite ao
público uma leitura mais acurada acerca daquilo que lhe está sendo transmitido.
Ora, eu não sou contra o diploma, como venho tentando dizer em cada parágrafo.
Eu sou contra o jornalista que possui o diploma e não sabe o que fazer com o
saber adquirido na academia e que faz do diploma um passaporte para a
empregabilidade; e ao mesmo tempo quero dizer que se o indivíduo é capacitado
para a práxis jornalística, ainda que não possua o diploma, e se esta é a
carreira que ele escolheu para garantir a sua sustentabilidade e a de sua
família, ele não deve ser impedido disso. Ao contrário; se a empresa que
contrata um indivíduo devidamente capacitado sem o diploma acadêmico, ela deve
proporcionar a ele a possibilidade de passar pela academia para adquirir um
saber científico e melhorar a qualidade do seu produto. Desse modo, se o
sujeito tem faro para a notícia, como disse Nêumanne referindo-se ao seu
mestre, ele adquire aquele saber que eu venho dizendo todo o tempo, um saber
que transforma a realidade presente para a promoção da paz de todos e todas, de
valorização da ética, da solidariedade, da justiça e de redução das
desigualdades.
VIII - Bibliografia
Moran, José Manuel. Como utilizar a internet na educação in Construir Notícias.
Nº 31, novembro /dezembro de 2006.
Agência Brasil: www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2008/09/18/materia.2008-09-18.8640267075/view
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acessado em 18/9/2008, 21:30h.
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Bentes. Ivana. Instituto Humanitas Unisinos. Disponível em www.
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Machado. Cassiano Elek. A universidade é só o começo: Jornal Folha de São
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O DIA on-line: Acidente entre carro e motocicleta deixa um ferido em Botafogo:
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Zero Hora on-line: Acidente em Farroupilha deixa quatro pessoas gravemente
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Serva, Leão Pinto. Babel: a mídia antes do dilúvio e nos últimos tempos. São
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Pastore, José. Empregabilidade: Disponível em
www.josepastore.com.br/artigos/em/em_076.htm acessado em 03/10/08 às 20:04h.