segunda-feira, 13 de maio de 2013


escrito originalmente em pedagogosdofuturo.blogspot.com (blog em desuso) em 10/10/2008

Comunicação e Informação: jornalista diplomado tem que ser diferente
Por Rildo Ferreira


I - RESUMO

A partir de um e-mail recebido do Portal Brasileiro de Filosofia, que critica a declaração do ministro Fernando Haddad sobre discutir diretrizes curriculares dos cursos de Comunicação Social, em especial o de jornalismo, e a possibilidade de criar cursos de especialização em jornalismo para que formados em outras áreas também possam exercer a profissão, e-mail que foi encaminhado para uma estudante de jornalismo e que provocou um debate interessante sobre a importância do diploma para o exercício da profissão de jornalismo. Para aprofundar o debate, fomos à origem do imbróglio: a reportagem com parte da declaração do ministro. Analisando a declaração concluí que a interpretação constante no e-mail tem um cunho ideológico e criticista. Aprofundo minha investigação para reforçar ou refutar meu conceito filosófico sobre o que vem a ser jornalismo e da necessidade do diploma para a prática da profissão dentro do contexto da sociedade do conhecimento e dos modernos recursos tecnológicos. Uma indagação surge dentro desta busca: o que é isto, o jornalismo? Esta inquietação reforça a idéia de que jornalismo tem a ver com tomada de posição em favor das forças hegemônicas ou por romper com elas. Tem a ver com transformação ou a manutenção do atual estado de coisas dentro das relações de forças, o que exige cientificidade específica. Eis o que diferencia o jornalista diplomado pela academia dos outros profissionais que praticam jornalismo.

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Palavras Chave: jornalismo, comunicação e informação, diploma, sociedade.


II - Introdução

As crianças travessas, daquelas bem bagunceiras, são exímias comunicadoras. E elas fazem comunicação de uma forma bastante ideológica, pois se trata de uma escolha entre a verdade que resulta no castigo, ou no escamotear da verdade para fugir do castigo. Ao seu jeito, ainda na mais tenra idade, uma criança consegue narrar com requintes de detalhe sobre um fato acontecido e, comunicando-se desta forma produz uma informação verossímil.

As pessoas no dia-a-dia praticam a comunicação e a informação muito naturalmente. Tanto assim que, diante de um sinistro que presenciam, saem do local onde aconteceu o sinistro comunicando e informando detalhadamente o ocorrido. Posso sugerir que esta é uma forma primitiva, mas muito original de praticar jornalismo ainda que sua informação não seja comunicada através de jornal, rádio, televisão ou internet, pois, a partir de um indivíduo, muitos outros se orientam por meio dela. Na forma primitiva, este processo se ramifica e cada um que ouviu tenta reproduzir com fidelidade a informação recebida. Quem pode calar a boca das pessoas a ponto de impedi-las de praticar este tipo de jornalismo? Mesmo no período da repressão, onde a censura era uma prática comum dos órgãos repressivos, só se calavam as pessoas que queriam comunicar e informar encarcerando-as ou eliminando-as definitivamente.

Ora, nos dias contemporâneos, tempo em que se vive a sociedade do conhecimento, e desde o início da revolução tecnológica, os processos de comunicação e informação ficaram naturalmente mais democráticos. Se cada um, e todos e todas podem praticar jornalismo sem ser jornalista formado/a na academia, para que serve o diploma universitário de jornalismo? Esta questão abre um debate acerca do papel do jornalismo e da práxis jornalística, apontando para uma relação dialética com vistas a uma intervenção nas questões sociais.

Este texto se propõe a dialogar sobre a necessidade do diploma de jornalista para a prática do jornalismo. Eu me debrucei sobre a questão a partir de um comentário que recebi do Portal Brasileiro de Filosofia, em nome de Paulo Ghiraldelli Júnior, que se denomina filósofo de São Paulo. Nele Ghiraldelli comenta uma manifestação do ministro da educação Fernando Haddad que teria dito no dia 18 de setembro de 2008, numa entrevista à Empresa Brasil de Comunicação (EBC) que “criará uma comissão para discutir as diretrizes curriculares dos cursos de comunicação social, em especial o de jornalismo” (Cieglinski, 2008: Agência Brasil).

Antes de seguir adiante na questão, preciso informar aos meus leitores que não sou jornalista, não estudo jornalismo e não tenho ainda o curso superior. Na verdade, sou estudante de Pedagogia num curso noturno graças a uma bolsa do ProUni, um programa do governo federal que oferece bolsas de estudos no ensino superior para quem estudou o ensino médio em escola pública ou foi bolsista em escola particular, programa que Ghiraldelli usa para descerrar seu preconceito e sua posição ideológica de manutenção da sociedade desigual quando afirma “... como em princípio quem faz um curso superior sabe escrever (eu disse "em princípio", pois não posso dizer "efetivamente", dado o Prouni e outras facilitações brasileiras arrumadas pelo PT e outros arautos do populismo)...” como sendo todos nós bolsistas do ProUni incapazes e não aptos para ingressar no curso superior.

Este texto começa por analisar a entrevista que o ministro concedeu à Empresa Brasil de Comunicação (EBC) a partir da reportagem de Amanda Cieglisnki. Em seguida, vamos analisar outras opiniões acerca do tema, abordando ao mesmo tempo o significado de jornalismo como espaço público e como processo, e também avaliar como o jornalismo está sendo praticado nas grandes mídias abrindo uma discussão sobre o papel social de quem pratica jornalismo enquanto profissão.

Eu vou concluir expressando minha posição sobre este assunto. Não posso eximir-me desta condição considerando que foi exatamente isto que me trouxe a esta dissertativa. Não espero elogios, ao contrário, quero provocar um debate acerca da práxis jornalística com o intuito claro de influenciar na posição dos futuros jornalistas que farão comunicação e informação para uma geração que emerge em meio aos instrumentos tecnológicos bastante interativos, cuja capacidade de fruição e reflexão do conteúdo midiático está muito além do nosso conhecimento. Se ao final do debate surgir questionamentos e inquietações acerca do que é o jornalismo, fazendo com que todos e todas que se interessam pelo tema expressem suas opiniões de maneira a esclarecer o assunto, aí sim teremos alcançado o objetivo fim.

III - O que provocou esse debate

Como estudante do curso de Pedagogia (como já o disse, graças ao ProUni, para desespero do Ghiraldelli), fiz uma disciplina denominada Filosofia da Educação. Neste período tive contato com a literatura de autoria de Paulo Ghiraldelli Júnior. Certo dia, pesquisando sobre o Programa de Desenvolvimento da Educação do governo federal, encontrei um artigo publicado no jornal Estado de São Paulo assinado por Ghiraldelli. Neste artigo ele faz uma dura crítica ao PDE. Com uma posição diferente dele, fiz uma crítica à crítica dele e publiquei no meu blog (acessível em pedagogosdofuturo.blogspot.com/2007/12/o-mec-no-pra-de-errar-por-rildo.html#links). Como um sujeito democrático e buscando ser honesto, enviei um e-mail ao Ghiraldelli lhe comunicando sobre o artigo. Eis que o filósofo de São Paulo, como gosta de se denominar, me responde com ofensas. Posso garantir que burro foi a única publicável. Não me contive e repliquei. Novamente, novos insultos, mas desta vez com um convite para participar do grupo do Portal Brasileiro de Filosofia. Eu aceitei!

Como membro do grupo, recebo vários e-mails com os mais variados assuntos. Maioria deles eu os ignoro, pois nada dizem de importante. Mas recebi um que me chamou a atenção pelo seu título jornalista sem diploma, e pela discriminação explícita no seu conteúdo. Vale a pena reproduzir o parágrafo para uma apreciação de todos e todas. Disse ele:
Na prática o que Fernando Haddad pensa sobre o jornalismo pode ser mais ou menos isso: ser jornalista é saber escrever e, então, como em princípio quem faz um curso superior sabe escrever (eu disse "em princípio", pois não posso dizer "efetivamente", dado o Prouni e outras facilitações brasileiras arrumadas pelo PT e outros arautos do populismo), para que devemos ter qualquer "reserva de mercado" para tal profissão? (Ghiraldelli, 2008: e-mail de grupo)
O estranho é que no site do Portal Brasileiro de Filosofia (PBF) Ghiraldelli não faz uso do termo discriminatório quando reescreve o artigo rearranjando com o títuloO Jornalista Sem Escola de Jornalismo (Ghiraldelli, 2008: internet). Por que será? Talvez ele não queira mostrar sua verdadeira face para os milhares de universitários bolsistas do ProUni que em determinado momento farão uso de uma ou mais obras de sua autoria. Mas isto não vem ao caso aqui. Então vamos voltar ao assunto e dizer que este e-mail (o que recebi do PBF) foi reenviado para uma estudante de jornalismo que já praticava jornalismo sem passar pela academia. Daí o debate tomou um determinado corpo aguçando minha curiosidade para conhecer mais sobre a matéria.

Então adotei a seguinte metodologia: primeiro é preciso conhecer o teor das declarações do ministro. Não foi encontrado nenhum registro integral da entrevista dada pelo ministro Haddad à Empresa Brasil de Comunicações. A matéria startante deste imbróglio é de autoria de Cieglinski da Agência Brasil, e que vou comentar no tópico seguinte. Depois fui procurar artigos, teses e literatura pertinentes ao jornalismo, não só para entendê-lo enquanto ciência, mas para compreender sua práxis e sua função científica. Vamos adiante ao assunto passando agora à matéria da jornalista Cieglinski e entender o que de fato disse o ministro Haddad.

IV – O ministro e a profissão do jornalista

Cieglinski, repórter da Agência Brasil, em matéria disponível na internet escreve: “... O ministro da Educação, Fernando Haddad, disse hoje (18), em entrevista à Empresa Brasil de Comunicação (EBC), que criará uma comissão para discutir as diretrizes curriculares dos cursos de comunicação social, em especial o de jornalismo... Entre os possíveis assuntos que serão debatidos pela comissão está a possibilidade de criar cursos de especialização em jornalismo para que formados em outras áreas também possam exercer a profissão”.


Ministro da Educação, Fernando Haddad – foto extraída da matéria da Agência Brasil


Nas palavras do ministro na entrevista ele propõe uma discussão para ver quais diretrizes e quais competências são necessárias para que um profissional não jornalista possa exercer jornalismo. Nesta entrevista, não há uma posição do ministro em ser favor ou contra o diploma para o exercício da profissão. O que foi dito, é preciso reforçar, é que a posição do ministro é “... que é um bom momento para discutir essas diretrizes e verificar inclusive quais são as competências que precisam ser adquiridas por um profissional de outra área para que ele possa exercer a profissão de jornalista” (Ceglinski, 2008: Agência Brasil).

Ivana Bentes, doutora em Comunicação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, diretora da Escola de Comunicação, concede entrevista para a Revista on-line do Instituto Humanitas Unisinos onde declara:
... surge uma argumentação contrária, afirmando que isso é fazer o jogo das empresas. Vejamos que as empresas já burlam o diploma de todas as formas, como os colunistas. Sempre peço aos meus alunos para analisarem qual é o maior salário das redações e o resultado é sempre o mesmo: os colunistas. Quantos deles são formados em jornalismo? Quase nenhum! Os cronistas, os editores, os colunistas, isto é, os cargos mais nobres da redação são ocupados, geralmente, por não jornalistas. E isso há décadas! Eu considero muito saudável o fato de que sociólogos, antropólogos, filósofos, economistas e artistas escrevam nos jornais. O jornalista não tem mais aquele perfil fechado. Se a exigência do diploma acabasse amanhã, os cursos de comunicação continuariam iguais. Os cursos que fazem a diferença dentro da formação desse profissional continuam formando profissionais de qualidade. O que muda e o que acaba são os cursos que realmente vendiam apenas o diploma.
Vamos analisar esta última frase do ministro Haddad - quando ele diz “... verificar inclusive quais são as competências que precisam ser adquiridas por um profissional de outra área para que ele possa exercer a profissão de jornalista” e compará-la com a afirmação de Bentes. A doutora diz que há sociólogos, antropólogos, filósofos, economistas e artistas que escrevem para os jornais. Embora ela não seja contrária a participação deles, inclusive considerando-os saudáveis para a comunicação e a informação ela questiona: quantos deles são formados em jornalismo? E o que disse o ministro senão verificar quais as competências necessárias para que, com uma formação complementar, eles possam continuar fazendo o que já fazem sem serem jornalistas. Essa informação está no artigo de Ceglinski. Vejamos:

Para o ministro, o aprofundamento do debate pode implicar em melhoria da qualidade do exercício profissional. “A comissão discutirá isso, sem prazo determinado, para que o MEC tenha um posicionamento oficial sobre o assunto [obrigatoriedade do diploma para exercício da profissão]. Mas essa [a formação complementar] é uma possibilidade. Um médico, por exemplo, pode fazer uma pós em comunicação para cobrir os assuntos de saúde, ou um pedagogo para cobrir educação”, comparou ([grifos da autora] Ceglisnki, 2008: Agência Brasil).

Ora, a minha compreensão é a de que o ministro pensa que para que estes graduados não jornalistas possam continuar a praticar o jornalismo que praticam, precisarão de uma pós-graduação com disciplinas pertinentes ao jornalismo, nos moldes aplicados na educação, quando um psicólogo, antropólogo, biólogo, sociólogo deseja ser um educador, precisa fazer algumas disciplinas pertinentes para a licenciatura. Obviamente precisamos de mais elementos do pensamento do próprio ministro para ter um entendimento claro sobre o que ele pensa desse assunto, de qualquer maneira, este parágrafo mostra que o MEC ainda não tem uma posição formada e que esta comissão é que pode oferecer os subsídios necessários para uma posição oficial sobre o assunto.

Digamos que o Ghiraldelli esteja certo na sua interpretação e eu esteja errado na minha. Digamos, também, que a proposta do ministro seja esta, a de oportunizar que qualquer um que tenha curso superior possa exercer a profissão de jornalista sem que tenha cursado a academia com esta finalidade. Digamos que a compreensão comum é a de que isto é um erro e que não pode ser aceito de maneira nenhuma e que, para ser jornalista o sujeito tenha que passar pela academia com esta finalidade. Não temos, então, alguns questionamentos a serem respondidos? Vejamos: quem exerce a profissão de jornalista e não possui o diploma, o que será feito desse povo? E esses impressos independentes que são produzidos com característica de jornal, serão proibidos de circular? E os milhares de indivíduos que atuam nessa enormidade de rádios comunitárias espalhadas pelo país, trabalhadores que não possuem diploma de jornalista, o que será feito deles? Será possível impedir que uma pessoa publique uma matéria na internet, na sua revista eletrônica, no seu blog, no seu jornal eletrônico, na sua rádio virtual?

Eu acredito na possibilidade da democratização da comunicação e da informação. A Constituição Federal garantiu às brasileiras e brasileiros o direito de comunicação, de informação, de expressão cultural, independente de censura ou licença. Está expresso no seu Art. 5º. Nos seus respectivos incisos:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: ... IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato; ... IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença; ... (Constituição Federal, 1988 [grifo meu])
Dada essa condição constitucional, vamos pensar agora numa característica desta sociedade e desta nova geração que nasce em meio aos revolucionários recursos tecnológicos. Vivemos a era do conhecimento, onde o capital principal é o intelectual, exigindo dos trabalhadores uma capacidade de tomar iniciativas, estar informado e atualizado, ser capaz de se comunicar com desenvoltura e de ser inovador. Esta sociedade é produto da chamada terceira revolução, a revolução tecnológica. Com o barateamento e a conseqüente popularização desses instrumentos, com muito pouco recurso financeiro qualquer pessoa pode produzir o seu próprio jornal (Kucinski, 2003: internet). E quem poderá impedir alguém de se comunicar sem correr o risco de censura e de violação dos direitos constitucionais do cidadão?

Os defensores do diploma para o exercício da profissão de jornalista deveriam estar preocupados com outra questão: a da razão filosófica de ser do jornalista. Esta razão é muito mais do que ter a garantia de emprego por ter um diploma na mão. Aliás, diploma não é garantia de absolutamente nada. Tem muito diplomado por aí concorrendo a um emprego público com salário de pouco mais de 600 reais por mês. E por quê? Porque não são competentes. Não adquiriram a competência necessária na academia para exercer a profissão escolhida. Então a gente precisa se debruçar sobre o que vem a ser jornalismo pra buscar a essência desta profissão. E pra quê buscar esta essência? Pra ser diferente e não ficar preocupado com os milhares de homens e mulheres que exercem a profissão sem diploma. Se estes que não possuem diploma ocupam o lugar de quem possui, alguma coisa está errada, e está errada por inabilidade, incompetência dos diplomados que não ocupam o seu espaço. E o que é interessante observar é que o corporativismo não tem conseguido impedir isso (Bentes, internet).

Cassiano Elek Machado, jornalista da Folha de São Paulo, escreveu um artigo em 2002 com o título “a universidade é só o começo” e traz no seu primeiro parágrafo uma interessante observação que desejo reproduzi-la a todos.
Na última década, a universidade viveu uma espécie de milagre da multiplicação dos diplomas. O número de graduados cresceu de 225 mil no final dos anos 80 para 325 mil no levantamento mais recente do Ministério da Educação, em 2000. A entrada no mercado de trabalho desse contingente, porém, não vem sendo propriamente triunfal como uma festa de formatura. Engenheiros e educadores, professores e administradores, escritores e sobretudo empresários, têm sussurrado uma frase nos ouvidos dessas centenas de milhares de novos graduados: "O diploma está nu" (Machado, 2002: internet).
Machado destaca no texto a expressão “o diploma está nu”. Por qual motivo? Notem que o autor diz que o mercado não absorveu o contingente de graduados na mesma proporção da formatura. E de lá (2002) aos dias atuais, quantos graduados mais foram lançados como oferta no mercado sem que este tivesse condições de absorvê-los? E o diploma foi garantia de emprego? A resposta é simples. Não. E o que é pior, é que os piores desse contingente passaram a disputar emprego de nível médio ou se colocando a disposição com salários aviltantes, o que passou a colocar em xeque o emprego e o salário dos melhores.

Nesse mesmo artigo ele cita o autodidata Evaldo Cabral de Mello para dizer "O importante é ter formação, que não é necessariamente universitária”. Ora, se recorrermos ao artigo da doutora Bentes (internet) perceberemos que as empresas de comunicação preferem aqueles que são formados e bem informados aos jornalistas diplomados que deixam a desejar quando avaliados empiricamente. Talvez por isso os alunos da doutora identifiquem melhores salários para aqueles que não possuem diploma de jornalista. Com efeito, senhoras e senhores; o problema da empregabilidade não está no diploma, mas na formação. Diploma e corporativismo não vão garantir emprego nos dias atuais (Pastore, 2000). Daí que eu insisto que o jornalista que passa pela academia precisa ser diferente. Ele possui a cientificidade pertinente para uma práxis diferenciada. Uma práxis que pode interferir no que está posto na sociedade, na comunicabilidade. No meu entender, jornalista tem uma função social e seu trabalho precisa estar atento a isto, ainda que as empresas de comunicação operem contra uma mudança substancial na sociedade preservando o status quo da classe hegemônica, é papel do jornalista estar lá investigando a causalidade do fato, reportando com verossimilidade provocando uma transformação no contexto social.

V - O que é isto, o jornalismo?

Para levar adiante este diálogo vamos precisar esclarecer o vem a ser jornalismo (estou falando do meu ponto de vista sendo factível aos leitores uma interpretação diferenciada). E para esclarecer o que penso do assunto, vou recorrer a outro doutor em comunicação social. Trata-se de Carlos Chaparro, que a meu ver, tem uma definição bastante esclarecedora sobre o que é jornalismo. Um vídeo disponível no You Tube, acessível a qualquer um que queira investigar, foi transcrito por mim, e aí me permiti corrigir para a escrita aquilo que o doutor Chaparro diz oralmente, para ilustrar este diálogo. Disse Chaparro:
O jornalismo não é o jornal. O que se joga no lixo é o jornal, mas o jornalismo tem a ver com a vida. Porquê? Porque aquilo que é noticia só é noticia porque tem algum potencial de transformar a realidade. Então o jornalismo não lida com o efêmero. Jornalismo lida com a transformação. As noticias de amanhã elas refletirão os efeitos das notícias de hoje. Portanto o jornalismo está enraizado como ferramenta essencial no contexto da vida, no contexto da realidade, no contexto da construção do presente (Chaparro, transcrição de vídeo).
Transformar a realidade é, a meu ver, interferir nela. Como isso pode ocorrer? Ora, vamos recordar o jornalista Tim Lopes, barbaramente assassinado no topo da Favela da Grota, no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. O que fazia Tim Lopes na favela? Uma reportagem é claro, mas não uma reportagem que apenas narrasse o fato, mas uma que mostrasse a causalidade e a conseqüência do fato. Tim Lopes tentava mostrar que onde o Estado não atua, o crime se instala, se organiza, e toma conta de tudo. Ali onde o Estado está ausente, impera a Lei do crime. Meninos de 10, 12 anos andam fortemente armado com escopeta, fuzil, pistola; entorpecentes são comercializados como se fossem guloseimas infantis; quem comete um ato que viola a lei do crime, ali mesmo é julgado e, se condenado, fuzilado como sentença última.

Ao tentar interferir na realidade o jornalista pratica o jornalismo na sua essência, ou seja, ele procura com a narração do fato conhecer a causalidade para produzir um efeito transformador da realidade. Para esclarecer melhor o que estou dizendo vamos analisar as matérias publicadas nos jornais O DIA on-line e Zero Hora on-line em 01/10/2008:
Acidente entre carro e motocicleta deixa um ferido em BotafogoBartolomeu Brito Rio - Um Celta branco, placa LQH 1849, colidiu com uma motocicleta Zuzuki preta, placa MJR 0007, na Rua general Polidoro, em frente ao nº 15, em Botafogo.
O motociclista, Caio de Melo, 47 anos, caiu da moto e sofreu ferimentos leves. Foi socorrido por uma ambulância do Corpo de Bombeiros e levado para o Hospital Miguel Couto (O Dia on-line, 01/10/2008).
Acidente em Farroupilha deixa quatro pessoas gravemente feridas
Caminhão e Uno colidiram próximo ao Posto Cavalleri, no km 109 da RSC-453
Um acidente entre um caminhão furgão e um Uno, às 9h50min, próximo ao Posto Cavalleri, no km 109 da RSC-453, em Farroupilha, deixou os quatro ocupantes do carro gravemente feridos. O motorista do caminhão saiu ileso, e seu ajudante teve escoriações leves. As vítimas foram socorridas pelo Corpo de Bombeiros e encaminhadas ao Hospital São Carlos, no município.
O caminhão, da empresa Divibom, distribuidora de sorvetes Kibon, seguia no sentido Farroupilha-Garibaldi. O Uno da empresa Acquasul, de Nova Prata, vinha no (sic) mão oposta (Zero Hora on-line, 01/10/08).
Com efeito! O que os jornalistas produziram com as respectivas matérias? Onde estão as causas das tragédias? Quais objetivos os jornalistas tinham quando pensaram em produzir tais artigos? Se nada tem de objetivo, a matéria não passa de uma ação de um comunicólogo. Jornalismo é mais que isso. Jornalismo procura conhecer a causa para transformar a realidade. Vejamos: se nas mesmas matérias os jornalistas se preocupassem em verificar quais foram os motivos que provocaram os acidentes ouvindo outros atores como os que vivem próximo dos locais dos acidentes, outros motoristas que trafegam diariamente pelas respectivas estradas, procurassem conhecer as condições da sinalização, do asfalto, da visibilidade etc., procurando mostrar além dos feridos nos acidentes e dos nomes deles (aliás, a matéria do jornal Zero Hora sequer identifica os feridos), não estariam os jornalistas provocando uma inquietação no Poder Público para tomar as medidas cabíveis para evitar novos acidentes? É disto que estamos falando. Jornalista que narra fatos não é jornalista. É comunicólogo. Para isto ele não precisa do diploma da academia. Para isto qualquer um que fale com desenvoltura, que saiba ler corretamente e tenha boa locução ou saiba escrever corretamente serve.

Voltemos a dialogar com o doutor Chaparro. No mesmo vídeo (repito: transcrevi com algumas correções) ele se refere ao jornalismo como um processo capaz de transformações sociais. Vale a pena transcrever o diálogo aqui para melhor compreensão.
O jornalismo é uma linguagem com características muito particulares, com uma vocação muito particular para levar à sociedade relatos, comentários, que possam ser acreditados. O jornalismo é um processo, porque na medida em que as notícias de hoje projeta os acontecimentos que amanhã serão noticiados, projetam, isto é, motivos, acontecimentos que amanhã serão noticiados, então há aí uma dinâmica que tem a ver com os próprios processos sociais. E o jornalismo cumpre um papel muito importante dentro dos processos sociais. E o próprio, nos seus mecanismos, na sua lógica, ele se constitui um processo (Chaparro).
Ele, o jornalismo, cumpre um papel importante dentro dos processos sociais porque ele próprio é um processo contributivo nas transformações sociais. O que será notícia amanhã é um reflexo daquilo que será noticiado hoje, ou seja, se a notícia de hoje não mobilizou, não impactou, não inquietou, não provocou mudanças, amanhã ela será a reprise daquilo que já foi noticiado. É uma matéria requentada: mudam-se as palavras, mas o conteúdo é o mesmo. Já quando ocorre o contrário, quando mobiliza, inquieta e provoca mudanças, a notícia amanhã será outra, talvez ainda das mudanças que ocorrem ao mesmo tempo ou da própria mudança já concreta.

A estudante de jornalismo citada no início deste texto, como já me referi, praticou jornalismo por muito tempo sem ser jornalista formada na academia (quero exaltar sua grande capacidade produtiva e afirmar que sua formação se deu na prática). Fui testemunha de que muitas reportagens produzidas por ela foram transcritas nos jornais da região sem que o/a jornalista responsável pela publicação se desse ao trabalho de alguns telefonemas, algumas horas investigando, procurando conhecer o “outro lado da moeda”. Não que a matéria não fosse digna de crédito, mas é imprescindível que o jornalista não tenha apenas uma versão. Não há aqui nenhuma conjetura da teoria da imparcialidade. Muito já se tem falado que não há imparcialidade em jornalismo e eu comungo desta opinião, mas há o que é de fato de diferente num jornalista. Investigar é fundamental para a credibilidade do que ele publica, ou noticia no rádio ou na televisão. Para fazer essa garimpagem de notícias que lhes chegam por e-mail sem se dar ao trabalho da verificação, não é necessário o diploma da academia. É aqui que eu considero que, se é para interpretar um texto bem redigido, com as preocupações pertinentes da redação, a meu ver, ficaria melhor o posto para um linguístico ou um professor de língua portuguesa.

V.i. – Uma abordagem esportiva

Ora, certamente alguns estão se perguntando sobre no que um jornalista esportivo pode intervir, por exemplo. Estamos tão acostumados a ouvir a fatídica pergunta “qual a sua expectativa para este jogo?” que não nos damos conta do que acontece na margem periférica de uma partida de futebol. Vamos tomar como exemplo um jogo envolvendo duas equipes rivais de um Estado, poderia ser São Paulo e Corínthians; Atlético Mineiro e Cruzeiro; Grêmio e Internacional; mas vou ficar aqui no Rio (de onde escrevo este texto) e citar Vasco e Flamengo. Quantos ingressos falsificados são vendidos por cambistas nas proximidades das bilheterias do Maracanã? Porque as filas continuam quilométricas nas bilheterias com as tradicionais confusões, empurra-empurra etc.? Porque o estádio não tem uma praça de alimentação adequada para os visitantes? Você consegue se sentar no vaso sanitário dos banheiros do Estádio? Vejam quantas coisas conseguimos identificar neste pequeno espaço de tempo e espaço das quais o jornalista pode ter como objetivo influir. Mas o jornalista mal-formado, aquele que se preocupou apenas com o diploma da academia, está preocupado somente com a partida como fim em si mesma.

A notícia produzida com cientificidade por um jornalista capacitado tem um objetivo maior que é o de transformar uma realidade. Ela precisa ser inquietante, impactante, deixar alguém preocupado com o movimento que se dá a partir dela. Não deve ser sensacionalista, aquela notícia que fala de uma tragédia como se estivesse num grande teatro e que tudo isso é um show a ser noticiado. Quando se noticia uma tragédia, a notícia deve possuir caráter revelador, questionador, mobilizador. Quando noticiaram a morte do jornalista Tim Lopes provocou uma mobilização social em defesa do estado de direito; mobilização pela paz e pela vida. A notícia provocou uma mobilização que deixou o Estado inquieto. Tanto assim que o mentor intelectual da barbárie não demorou a ser preso. Quem, além do jornalista que passa pela academia, será capaz de fazer do jornalismo uma ciência social transformadora?

VI - Por que é impossível impedir a prática do jornalismo sem diploma?

Este tópico tem uma pergunta como título. A resposta é uma subjetividade deste autor. Para respondê-la precisamos conhecer melhor a sociedade em que vivemos. Como já citado acima, a Constituição Brasileira democratizou o fazer comunicação e informação, a cultura e o saber. Isso é um direito subjetivo e inalienável. Kucinski (internet) se reporta aos processos tecnológicos como um avanço na democratização da informação e da comunicação. Disse ele:
Quanto à outra revolução tecnológica, a da comunicação, a considero, certamente, libertária. Chamo a atenção para alguns aspectos dessa revolução que reforçam essa minha tese. O primeiro é o barateamento dos processos, dos produtos, dos equipamentos. Hoje com 3.000 ou 4.000 reais uma pessoa produz um jornal sozinha; libertou-se do capital. Ao contrário do que se possa imaginar, esse barateamento nos devolveu a autonomia intelectual e o domínio relativo da produção intelectual. Nesse sentido, a atual revolução tecnológica vai na direção oposta da Revolução Industrial do século XVIII, que criou a máquina, destruindo o artesão e fazendo cada trabalhador depender de um capitalista possuidor dos bens de produção (Kucinski, 2003).
Isso significa dizer que se antes a comunicação e a informação era privilégio de grupos agora já não é mais. É o mesmo que dizer que todos os que têm acesso à internet pode ser comunicado e comunicar, informado e informar, e isto sem ser necessário censura ou licença, preceito garantido na Constituição Federal desde 1988. Com efeito, qualquer pessoa que domina os modernos recursos tecnológicos pode praticar comunicação e informação mesmo não sendo jornalista formado na academia, como afirma Moran (2006):
A internet está explodindo como a mídia mais promissora desde a implantação da televisão. É a mídia mais aberta, descentralizada e, por isso mesmo, mais ameaçadora para os grupos políticos e econômicos hegemônicos. Aumenta o número de pessoas ou grupos que criam, na internet, suas próprias revistas, emissoras de rádio ou de televisão, sem pedir licença ao Estado ou estar vinculados a setores econômicos tradicionais. Cada um pode dizer nela o que quer, conversar com quem desejar, oferecer os serviços que considerar convenientes. Como resultado, começamos a assistir as tentativas de controlá-la de forma clara ou sutil (p. 9).
O jornalista que passa pela academia tem uma função social, me desculpem pela insistência na abordagem. Esta é a diferença marcante entre aquele que faz comunicação e informação com diploma para o que faz a mesma coisa, mas não possui o diploma. Isso quer dizer que o jornalista com academia tem uma tarefa de intervir no que está colocado na sociedade. Intervir significa tomar uma posição, ser ideológico. Não existe comunicação e informação imparcial. Então, fazer comunicação e informação qualquer um faz, e para isto não é necessário o diploma da academia, mas fazer comunicação e informação com o intuito de mudar as coisas, de promoção da verdade, com vistas a reduzir as desigualdades e as injustiças é que faz a diferença no comunicar e no informar. Esta intervenção, no entanto, exige uma cientificidade que não é dada ao que faz pelo ativismo, fazer por protesto, para usufruir do seu direito de se comunicar. Esta cientificidade é construída e apreendida na academia e é aqui o cerne da questão, o diferencial. Cientificidade aferida pelo diploma.

Jornalista que assenta a bunda numa cadeira almofadada e liga o computador, entra na internet, abre o e-mail e fica filtrando informações produzidas por assessores de imprensa sem investigá-la, é parte dos milhares de homens e mulheres que fazem comunicação e informação sem a cientificidade construída na academia. Para estes não é necessário o diploma da academia. Aliás, minha ousadia diz que se o papel dos veículos de comunicação é garimpar informações produzidas por assessores de imprensa para publicá-las, ou editá-las e reproduzi-las; garimpagem que privilegia um texto bem escrito, dentro das formalidades exigidas pela editoria, talvez fosse melhor um professor de lingüística ou da Língua Portuguesa a fazer isso a um jornalista que pena pra burro pra dar conta de um texto enxuto, corretamente elaborado.

José Nêumanne Pinto prefaciando o livro de Serva (1997) traz uma preciosidade como exemplo. Diz ele: “um de meus mestres, talvez o melhor repórter que conheci, Mané Alexandrino Leite, do Diário de Borborema, de Campina Grande, era semi-analfabeto. Ler, ele até lia, mas escrever, nem pensar. O que lhe faltava em intimidade com o vernáculo, porém, lhe sobrava em faro para a notícia...” (pp. 12, 13).

Como já disse anteriormente há um questionamento para saber o que será feito dessa turma que já pratica jornalismo sem o diploma de jornalista. Jornalistas formados empiricamente, que não passaram pela academia, mas que exercem com profundo conhecimento a práxis jornalística. Este exemplo que Nêumanne cita no prefácio do livro de Serva é importante porque ainda há muitos que trabalham no ramo sem possuir o diploma. Falo especificamente dos jornalistas que procuram a notícia, não dos colunistas que são graduados em outras áreas e que escrevem para os jornais e revistas, ou comunicam nas rádios e nas tevês. Estes a doutora Bentes já fala com muita propriedade em sua entrevista, já citada anteriormente.

Naturalmente, dirão alguns, que se uma Lei determinar que para exercer a profissão é obrigatório possuir diploma, as empresas serão obrigadas a contratar somente os jornalistas formados, respeitando aqueles que já têm o jornalismo como profissão mesmo sem possuir o diploma. Isso é verdade, entretanto, isso não será garantia de emprego pra ninguém só porque possui diploma. Não é à toa que os detentores dos meios procuram e valorizam os free lancers. Estes continuarão a existir e a vender suas matérias sem que tenha vínculo empregatício com as empresas de comunicação e informação. Além disso, esse corporativismo tende a supervalorizar o possuidor do diploma ainda que este não tenha adquirido na academia a competência necessária para a produção da notícia. E mais, muitos continuarão (eu digo continuarão porque isso é uma prática muito comum nos meios, principalmente nos jornais e revistas) a assinar por matérias produzidas pelos já conhecidos Assessores de Imprensa, muitos deles, se não a maioria, sem sequer ter passado pela academia. Isso vai na contramão da história desses tempos contemporâneos. A história diz que a academia deve capacitar o indivíduo para aprender a aprender e aprender a fazer. Muitos jornalistas formados estão muito preocupados com a empregabilidade, mas não sabem o que fazer com a formação que teve, ou seja, não sabe verdadeiramente para que serve a sua formação senão para lhe garantir um emprego numa empresa de comunicação e informação.

VII - Conclusão

Comecei este texto com uma reportagem da Agência Brasil sobre o ministro Fernando Haddad e sua declaração sobre criar uma comissão para verificar quais as competências são necessárias para que formados em outras áreas possam atuar enquanto jornalistas. Mostrei que a posição do ministro é defensiva, já que o governo não tem uma posição oficial. Esta será construída a partir do parecer desta comissão. Mostrei, também, que o ministro não se manifesta quanto a prática do jornalismo sem diploma e que a posição do filósofo Ghiraldelli Júnior é marcadamente ideológica e preconceituosa. Esta posição eu procurei estabelecer deixando claro que a minha interpretação não foi a mesma do Ghiraldelli e pode não ser a sua.

Em seguida, fiz um paralelo com a entrevista que a doutora Bentes concedeu ao Instituto Humanitas Unisinos, o que pela minha interpretação são complementares. Passo então a discursar sobre o que vem a ser jornalismo filosoficamente falando. Meu conceito eu deixo claro: jornalismo tem uma função social. Não é concebível fazer jornalismo para comunicar um fato simplesmente. Como disse o doutor Chaparro, jornalismo tem por característica transformar a realidade. Foi por isso que lembrei neste texto do jornalista Tim Lopes para lembrar que sua morte se deu em função do seu trabalho em tentar mudar uma realidade vivida nas favelas do Rio de Janeiro. Lopes tentava nos dizer que onde o Estado é ausente, o crime se aloja, se organiza e estabelece a sua lei, uma lei que é contrária a do estado de direito.

Ainda que os meios sejam instrumentos do capitalismo para a perpetuação da sociedade tal como ela se apresenta, cabe ao jornalista dar a sua contribuição para a transformação desta realidade. Como disse Serva (1997), “O rádio já surge dominado por forças que estão prontas a emitir quando ainda lhes falta público receptor”, assim como foi o jornal impresso, a televisão e agora a internet. Esta, no entanto, traz uma novidade que foi identificada por Kucinski (internet) como aquela que devolve ao produtor a autonomia da intelectualidade, democratiza e liberta. E aqui, por meio desse novo instrumento tecnológico está, talvez, aquilo que mais aterroriza os defensores do diploma para o exercício do jornalismo. A internet possibilita que a informação e a comunicação se dê em just time; sem as amarras de um proprietário que determina que tipo de conteúdo pode ser repassado à sociedade. Esse instrumento que alargou as possibilidades de fruição da informação e da comunicação do público; que colocou em xeque algumas verdades tidas como absolutas e que permite ao público uma leitura mais acurada acerca daquilo que lhe está sendo transmitido.

Ora, eu não sou contra o diploma, como venho tentando dizer em cada parágrafo. Eu sou contra o jornalista que possui o diploma e não sabe o que fazer com o saber adquirido na academia e que faz do diploma um passaporte para a empregabilidade; e ao mesmo tempo quero dizer que se o indivíduo é capacitado para a práxis jornalística, ainda que não possua o diploma, e se esta é a carreira que ele escolheu para garantir a sua sustentabilidade e a de sua família, ele não deve ser impedido disso. Ao contrário; se a empresa que contrata um indivíduo devidamente capacitado sem o diploma acadêmico, ela deve proporcionar a ele a possibilidade de passar pela academia para adquirir um saber científico e melhorar a qualidade do seu produto. Desse modo, se o sujeito tem faro para a notícia, como disse Nêumanne referindo-se ao seu mestre, ele adquire aquele saber que eu venho dizendo todo o tempo, um saber que transforma a realidade presente para a promoção da paz de todos e todas, de valorização da ética, da solidariedade, da justiça e de redução das desigualdades.

VIII - Bibliografia

Moran, José Manuel. Como utilizar a internet na educação in Construir Notícias. Nº 31, novembro /dezembro de 2006.

Agência Brasil: www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2008/09/18/materia.2008-09-18.8640267075/view

Ghiraldelli Jr. Paulo: Jornalismo - mais uma aprontação do garotão Fernando Haddad: disponível em groups.google.com.br/group/portal-brasileiro-da-filosofia/browse_thread/thread/96ea75da8b9fb81c#: acessado em 18/9/2008, 21:30h.

Ghiraldelli Jr. Paulo. Jornalismo sem escola de jornalismo: disponível em portal.filosofia.pro.br/noticia/mec-e-jornalismo.html: acessado em 20/9/2008 às 23h.

Bentes. Ivana. Instituto Humanitas Unisinos. Disponível em www. unisinos.br/ihu/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=1274 acessado em 27/9/2008 às 22h.

Machado. Cassiano Elek. A universidade é só o começo: Jornal Folha de São Paulo: disponível em http://www1.folha.uol.com.br/folha/sinapse/ult1063u6.shtml acessado em 30/9/2008, às 15:30h.

O DIA on-line: Acidente entre carro e motocicleta deixa um ferido em Botafogo: disponível em odia.terra.com.br/rio/htm/acidente_entre_carro_e_motocicleta_deixa_um_ferido_em_botafogo_203173.asp. acessado em 01/10/2008 às 16 horas.

Zero Hora on-line: Acidente em Farroupilha deixa quatro pessoas gravemente feridas: disponível em http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default.jsp?uf=1&local=1&section=Geral&newsID=a2214289.xml acessado em 01/10/2008

Serva, Leão Pinto. Babel: a mídia antes do dilúvio e nos últimos tempos. São Paulo: Mandarim, 1997.

Pastore, José. Empregabilidade: Disponível em www.josepastore.com.br/artigos/em/em_076.htm acessado em 03/10/08 às 20:04h.